RELIGIÃO E GLOBALIZAÇÃO: RELAÇÃO DE RECIPROCIDADE OU DE CONFLITO?de FABIEN JEAN| JobPaw.com

RELIGIÃO E GLOBALIZAÇÃO: RELAÇÃO DE RECIPROCIDADE OU DE CONFLITO?


Este trabalho procura entender a natureza das relações que existem entre religião e globalização. O debate sobre como entender, analisar e interpretar esta relação é caracterizado pela dificuldade de saber quais são a natureza e o estatuto de uma em relação à outra. Nessa situação, várias teses apareceram dentre as quais três foram predominantemente evocadas. A primeira sustenta que é pelo intermediário do pensamento religioso que o fenômeno da globalização surgiu desde a antiguidade, então, no início elas tinham uma relação de simbiose. A segunda defende os argumentos segundo os quais se a religião tem um papel no processo de globalização, seu destino é pouco desprezível e problemático porque a globalização vem transformando o universo religioso. Por fim, a terceira tese discute a ideia da religião universal como uma das consequências da globalização. É em torno dessas três ideias que se articulará o artigo. Para isso, vamos passar em revista algumas abordagens teóricas sobre o assunto a fim de ver que entre religião e globalização se cria uma zona ao mesmo tempo de conflito, de interinfluência e de ação recíproca.
RELIGIÃO E GLOBALIZAÇÃO: RELAÇÃO DE RECIPROCIDADE OU DE CONFLITO ?
RELIGION AND GLOBALIZATION: RELATIONSHIP OF RECIPROCITY OR CONFLICT?

RESUMO

Este trabalho procura entender a natureza das relações que existem entre religião e globalização. O debate sobre como entender, analisar e interpretar esta relação é caracterizado pela dificuldade de saber quais são a natureza e o estatuto de uma em relação à outra. Nessa situação, várias teses apareceram dentre as quais três foram predominantemente evocadas. A primeira sustenta que é pelo intermediário do pensamento religioso que o fenômeno da globalização surgiu desde a antiguidade, então, no início elas tinham uma relação de simbiose. A segunda defende os argumentos segundo os quais se a religião tem um papel no processo de globalização, seu destino é pouco desprezível e problemático porque a globalização vem transformando o universo religioso. Por fim, a terceira tese discute a ideia da religião universal como uma das consequências da globalização. É em torno dessas três ideias que se articulará o artigo. Para isso, vamos passar em revista algumas abordagens teóricas sobre o assunto a fim de ver que entre religião e globalização se cria uma zona ao mesmo tempo de conflito, de interinfluência e de ação recíproca.

ABSTRACT

This paper seeks to understand the nature of the relations between religion and globalization. The debate on how to understand, analyze and interpret this relationship is characterized by the difficulty of knowing what are the nature and status relative to each other. In this situation, several theses appeared among which three were predominantly evoked. The first maintains that it is the intermediary of religious thought that the phenomenon of globalization has emerged since antiquity, then, at the beginning they had a symbiotic relationship. The second supports the argument that if religion has a role in the globalization process, their fate is little sleazy and problematic because globalization is transforming the religious universe. Finally, the third thesis discusses the idea of universal religion as one of the consequences of globalization. It is around these three ideas that will shape the article. For this, we go over some theoretical approaches on the subject to see that between religion and globalization creates a zone at the same time of conflict, interinfluence and reciprocal action.

“La globalisation que nous connaissons est portée par des croyances, c´est un phénomène spirituel (DIDIER, 2008, p. 2)”

INTRODUÇÃO

Enquanto um tema muito complexo a ser debatido, a religião se vincula numa definição tradicional do Ocidente. A esta tradição se opõe a do Oriente que desenvolve uma cultura religiosa totalmente diferente daquela do Ocidente. Embora não importe tratar longamente da origem da religião, retomar sua definição etimológica e teórica de vários autores como Durkheim e Weber, mas gostaríamos de sublinhar que na visão ocidental da religião, a natureza das relações entre homens e deus é essencialmente vertical, por conseguinte, entre os indivíduos se cria um elo sociohorizontal e compartilham entre eles fé, cultura, tradição e valor idênticos (MESLIN, 2006). Nesse sentido, achamos que Durkheim tem razão dizendo que a religião é « um sistema solidário de crenças e de práticas relativas às coisas sagradas ».
Por outro lado, se na prática religiosa ocidental o conceito de deus é indispensável, na definição oriental ele é quase ausente, a religiosidade oriental se preocupa mais a entender as razões pelas quais os seres e as coisas existem no mundo. É o caso, por exemplo, do budismo que se considera como uma religião moral sem deus. Isso significa que o discurso religioso divide os dois mundos. Não é na verdade o único elemento que os opõe, a questão da racionalidade é também muito forte nesta oposição entre Oriente e Ocidente (GOODY, 1996). Mas, se a religião divide, a globalização tende a aproximar os dois mundos em relações de caráter internacional e transnacional. Com efeito, segundo tema da discussão, a globalização é de difícil definição. Essa dificuldade é o fato de que o tema abrange aspectos amplos e dimensões diversas. Apesar das dificuldades de definição, é importante sublinhar que a globalização não é somente um processo objetivo que se defini como nova forma de dominação, mas é também um processo subjetivo que tem a ver com uma outra ordem de colonização moderna das consciências. (PACE, 1999). Definida assim, a globalização deve ser percebida como um fenômeno cuja lógica ultrapassa a dimensão do Estado-nação. Novos conceitos surgem como sociedade global, modernidade-mundo, world system e colocam em xeque o Estado-nação (RENATO, 2006).

A globalização é um anglicismo de mundialização no vocabulário francês. No dicionário francês, Larousse, a palavra globalização significa literalmente ação de globalizar, isto é, as estratégias, as técnicas e os esforços de construir um mundo unificado sobre o plano econômico, político e cultural pela criação de um mercado planetário. Segundo Beck, a globalização seria o sinônimo do assassinato da distancia. As ações que acontecem e os produtos que circulam no global não têm territórios nem fronteiras, e isso afeta consideravelmente as diferentes esferas das atividades humanas como a informação, a cultura, a economia, a ecologia, a técnica (BECK, 1999). Na sua obra, O que é a globalização?, Beck sublinhou como a globalização já atinge essas esferas mostrando que a globalidade delas é uma espécie de desorganização do mundo para facilitar sua melhor reorganização. Eis como ele fala do tema:
Globalidade significa o desmanche da unidade do Estado e da sociedade nacional, novas relações de poder e de concorrência, novos conflitos e incompatibilidades entre atores e unidades do Estado nacional por um lado e, pelo outro, atores, identidades, espaços sociais e processos sociais transnacionais » (BECK, 1999, p. 49).

Perante esta ressignificação do mundo trazida pela globalização, a religião se encontra então ameaçada. Portanto, o debate atual que se coloca entre religião e globalização está procurando entender se é uma relação de influencia recíproca ou de conflito. Em outras palavras, trata-se de saber se há uma certa interação ou interconexão entre a religião, um dos componentes da cultura, e a globalização, processo de transformação do mundo. Nossa preocupação aqui é tentar decifrar a complexidade dessa relação pela formulação das perguntas seguintes às quais vamos tentar responder: A globalização significaria o fim da religião? Uma religião universal é possível? Qual será o destino da religião dentro da globalização?

1. A GLOBALIZAÇÃO SIGNIFICARIA O FIM DA RELIGIÃO?

Os argumentos de vários autores que trabalham sobre o tema da relação entre globalização e religião como, por exemplo, Jean Boissonnat, Olivier Roy, Elie Arié, Renato Ortiz e Jean-Paul Willaim parecem se concordar sobre a idéia segunda a qual as grandes religiões monoteístas mundiais como o cristianismo, o budismo, o islamismo, o judaísmo não somente são mais aptas a se conformar às exigências da globalização pelo fato de que elas já possuem o que Hans Küng chama um ethos mundial que lhes permite esta facilidade de adaptação, mas sobretudo estão mais capazes de exercer uma sobre a globalização uma influência considerável enfrentando potencialmente esse fenômeno. Jean Boissonnat é o primeiro que defende essa idéia apontando que a religião particularmente a religião judeu-cristã com as suas crenças e seus ensinamentos, é a primeira que começou a expandir uma visão universal e global do mundo pela veiculação de uma mensagem segundo a qual a humanidade é única porque foi criada por um Deus único e este Deus está em todo lugar ao mesmo tempo sem, no entanto, residir num lugar particular. Todavia, segundo ele, embora as religiões universais contribuem a veicular a mensagem de um mundo unificado, o papel decisivo da substituição de um mundo fragmentado para um mundo globalizado cabe também à economia .
Para Olivier Roy a secularização – sendo redefinida pelo processo de globalização como a transformação do religioso em vez do seu fim – significa o destacamento da religião da esfera cultural, principalmente a cultura percebida como indiferente e hostil. Segundo ele, para se tornar autônoma, pura, universal e, realmente global, a religião deve se libertar da cultura. (ROY, 2008). Esta argumentação de Roy está em contradição flagrante com a concepção antropológica pela qual a religião é um elemento fundamental da cultura. Mas, se antes as religiões se oponham radicalmente, hoje elas se encontram num ponto comum que é a globalização. O professor Renato Ortiz, por sua vez, tratando desse mesmo assunto sublinhou que, no contexto da globalização a compreensão das religiões ditas universais releva do domínio de história e de doutrina. (ORTIZ, 2006). Enfim, os estudos de Jean-Paul Willaim sobre a sociologia moderna da religião mostraram que desde o fim do século XX, sob o efeito da globalização, o mundo está conhecendo o aparecimento de várias formas de religiosidades arbitrariamente chamadas NMR (Novos Movimentos Religiosos) em vez de seitas na França ou cults nos Estados Unidos.
Estas considerações nos obrigam a levantar nesse debate entre religião e globalização ao menos quatro ideias que precisam ser destacadas. Primeiro, a religião seria um elemento catalisador para a globalização. Segundo, ela seria um ponto de encontro e de cruzamento entre as diferentes religiões, em particular, as que são chamadas de grandes religiões. Terceiro, a globalização oferece uma possibilidade para outras formas religiosas poderem aparecer, enfim, o processo de globalização marcaria uma ruptura entre religião e cultura. Em face dessa situação, não é possível dizer que o objetivo da globalização seria colocar fim à religião, pois em todas as considerações acima mencionadas a religião aparece como uma instituição forte que, como as outras, conhece momentos baixos e altos. Em resumo, para ir mais longe em nossas reflexões, duas grandes ideias merecem ser aprofundadas: primeiro, a globalização como produto do pensamento religioso, principalmente o cristianismo, segundo, a globalização como elemento imprescindível para a expansão e transformação da religião tanto do ponto de vista político como econômico. Antes de abordar a primeira ideia, é necessário lembrar rapidamente que o debate ocorrido no século XIX entre modernidade e religião toma a mesma conotação que domina hoje o debate entre religião e globalização. Neste período, foi defendida a tese segundo a qual o progresso da técnica e da ciência na sociedade industrial produzido pela modernidade colocaria um fim brutal à religião. Portanto, hoje a mesma problemática reaparece com a globalização de uma maneira mais acentuada.
A primeira argumentação a partir da qual precisamos considerar a religião um elemento catalisador da globalização é, aparentemente, muito recente. Ela é a obra das grandes religiões monoteístas mundiais que, em certo momento da historia, veiculavam uma mensagem de visão global do mundo. Esta mensagem é tirada dos ensinos teológicos e messiânicos de Jesus. Com efeito, segundo Jean Boissonnat, o fato de que Jesus não deixou a seus discípulos judeus mensagem e instruções escritas, isso limitaria a possibilidade de captar o inteiro conteúdo da sua mensagem, a dominar completamente seu ensino fazendo dele uma obra judaica e a deformar sua palavra. Esta atitude traduz o caráter global e universal do evangelho de Jesus. Uma das palavras interessantes que pode nos ajudar a compreender essa visão é a seguinte: Allez! Faites de toutes les nations des disciples, certo, trata-se de messianismo, de proselitismo, de evangelismo ou ainda de propagantismo religioso, mas, é difícil de não enxergar numa tal declaração os aspectos globais e universais. Em outras palavras, o evangelho de Jesus, apesar de ter nascido numa sociedade local, teria por dever de ultrapassar este local para se transpor no global levando em consideração as diferencias sociais e a diversidade cultural.
Nesse sentido, qualquer sociedade, comunidade e estrutura social será capaz de interpretar facilmente esta mensagem tentando acomodá-la à sua própria cultura, de aceitá-la ou rejeitá-la. O cristianismo parece ser a religião mais apta a poder influenciar a globalização não apenas pela sua mensagem de caráter universal e sua organização , mas também pela sua expansão linguística . O sociólogo francês, Didier Long, continua nessa mesma linha de pensamento dizendo que a globalização que conhecemos hoje é fruto das crenças, ela é um fenômeno espiritual. Com efeito, ele acrescenta que as conquistas civilizacionais começando por as de Alexandre Le Grand (Macedônia, Roma...) na história da antiguidade, passando pelo Islã que invadiu o Gilbratar até Induz para chegar até o desembarque violenta dos espanhóis na América, todas essas conquistas que se fizeram num âmbito global foram motivadas pelas crenças (LONG, 2008, p. 2 a seguir).
Fruto do pensamento judeu-cristão – se devermos admiti-lo assim – a globalização atual nasceu na sociedade ocidental. Agindo dentro da globalização, o religioso conhece hoje uma mutação que se caracteriza por um processo de desterritorialização que tende a criar neo-religiões como os evangélicos, o islã fundamentalista, e, as forças dessas neo-religiões são sua capacidade de constituir-se em redes mundiais e sua adaptação ao mercado religioso. A demarcação que o cristianismo faz entre o político e o religioso lhe permite de ser mais apto a influenciar o desenvolvimento da globalização, ou seja, mesmo nos períodos de cristandade, o imperador e o papa não foram em conflito. Embora não estejamos fazendo uma história das religiões, mas é importante lembrar que o catolicismo europeu, o cristianismo e o islamismo desempenharam um papel muito relevante nas atividades políticas e econômicas que caracterizam hoje a globalização. Enfim, essa primeira idéia nos permite compreender em que sentido o pensamento religioso pode ser um elemento muito útil à globalização para o alcance do seu objetivo que é o de criar uma cidade global com uma monocultura e uma religião global motivando a humanidade a mudar seu modelo de desenvolvimento.
Gostaríamos de começar com a segunda idéia sublinhando que a globalização das religiões encontra-se estimulada pela invenção das novas tecnologias de comunicação (a Internet) e pela globalização das esferas de ações sociais muito importantes, a saber, a política e a economia. Entre religião e globalização existe uma certa interconexão e reciprocidade de tal modo de que não é possível falar da religião sem globalização, nem falar da globalização sem considerar como os impactos religiosos podem influenciar o começo, o lançamento, o avanço e o progresso da globalização. No seu livro, Mendieta e Batstone se propõem explorar as tensões e os entrelaçamentos fundamentais e formativos entre religião e globalização. Segundo eles, a globalização da cultura que financia o monopólio capitalista é ela mesma uma religião, o deus da religião da globalização se torna a concentração do monopólio e o financiamento da riqueza capitalista (MENDIETA e BATSTONE, 2001, p. 1-4).
Hoje o pentecôtismo considerado como o novo avatar do imperialismo norte-americano, é a religião que cresce com uma rapidez impressionante através do mundo. Assim, é preciso compreender que a globalização é esse fenômeno do século XX que traduz homogeneização, heterogeneização e interdependência das grandes esferas de atividades humanas como a economia, a política, a cultura e a religião. Além disso, trata-se de um processo que se acompanha constantemente dessas esferas que podemos considerar seu braço direito. A globalização das religiões é marcada então por dois fenômenos: desterritorialização e desculturação.
Com efeito, a desterritorialização da religião não se resume à circulação da população mundial de um lugar a outro, mas significa que, pelo meio das ideias, dos objetos culturais, da informação e do modo de consumo, as religiões podem circular além do seu território de origem. Em outras palavras, elas podem transitar de um local a outro sem, no entanto, ter abandonado seu locar original. Para realizar com facilidade esta circulação desterritorializada, as religiões precisam ser desculturalizadas. Sobre esse aspecto Olivier Roy disse o seguinte:
La déterritorialisation n´est pas seulement liée à la circultation des personnes (qui ne concerne que quelque pourcent de La population mondiale), mais plutôt à la circultation des idées, des objets culturels, de l´information et des modes de consommation en general dans un espace non territorial. Mais pour circuler l´objet religieux doit paraître universel, non lié à une culture spécifique qu´il faudrait comprendre avant de saisir le message. Le religieux circule donc en dehors du savoir. Le salut ne demande pas de savoir mais de croire. Les deux, évidemment, sont loin d´être incompatibles dans les religions enchassées dans la culture et développant une réflexion théologique stimulée par le contact avec la philosophie et la littérature. Mais cette connexion, non seulement n´est plus nécessaire, mais deviant un obstacle quand il s´agit de circuler en «temps réel» dans un espace où l´information a remplacé le savoir (ROY, 2008, p. 21).

A desterritorialização que vai de par com a desculturação, são dois fatores inerentes à globalização da religião no sentido de que para ser universal e global ao mesmo tempo, toda religião deve se destacar da sua cultura primitiva para poder se adaptar e integrar às outras culturas. Este abandono provisório não faz com que a religião perde suas raízes, mas lhe permitirá de ser accessível e compatível a outras culturas. Trata-se assim para a religião de um deslocamento, de uma reorientação e da busca de outros horizontes. Ou seja, só por esta desterritorialização, que é em si mesma um destacamento e não um abandono total e completo da cultura primitiva, que a religião poderá se tornar um objeto global e mundial capaz de circular através do mundo e penetrar em todas sociedades.
A desculturação deve ser entendida como a ruptura brutal entre a religião e a cultura. Ela é causada pela secularização e pela globalização que compelem a religião a construir-se como autônoma tornando-se cada vez mais hostil à cultura, em outras palavras, como afirmam Jean Boissonnat; Olivier Roy; Elie Arié; François Thual, a globalização seria o tempo da religião sem cultura e não tempo sem religião. O que devemos entender por religião sem cultura? Se durante algum tempo, a religião fazia parte da esfera cultural é porque ela era fortemente marcada pela territorialidade, ou seja, ligada e agarrada a uma nação, a uma sociedade, a uma comunidade, a uma civilização, portanto a uma cultura específica. Alhures, se a religião encontrava-se compatível e indissociável da cultura é porque ela se considerava menos pagã, secular e profana. Então, hoje, para poder responder às condições da globalização o único caminho que ela deve tomar é oposição explicita à cultura. Ainda segundo Olivier Roy, a desculturação significa que o religioso está circulando além de todo sistema de dominação política, ela traduz igualmente a perda da evidencia social do religioso. Uma das religiões que representa o protótipo dessa desculturação é o Pentecôtismo pela sua capacidade de ser, de um lado, ao mesmo tempo uma religião local e não territorial, pela sua competência de criar uma língua universal chamada glossolalia[8] do outro. Eis como ele fala desta nova forma de comunicação entre crentes que não compartilham língua comum:
Le pentecôtisme, on l´a vu met en avantl´émotion, la guérison et le parler en langues (glossolalie). Sous l´influence de l´Esprit saint, à l´imitation des apôtres, certains croyants se mettent à «parler en langues», de telle sorte que des personnes avec qui ils n´ont aucune langue commune comprennent ce qu´ils disent. Mais les pentecôtistes qui prêchent en «langues», comme on l´a vu plus haut, ne prêchent en aucune langue réelle: la glossolalia n´est qu´une succession de sons. Le «message» passe néanmoins: la parole de Dieu n´a plus besoin de s´inscrire dans une langue et une culture précises. C´est précisément parce que l´esprit est déconnecté de la lettre que le message est universel. Le Saint-Esprit est au-delà de la culture, même si le Christ s´est incarné (OLIVIER, 2008, p. 234).

Esses argumentos enfatizados sobre a desterritorialização e a desculturação – duas faces de uma mesma moeda chamada globalização – não significam que a religião vai acabar ou vai cessar de exercer seu papel de coesão social, de harmonia social e de integração social por causa da globalização. Além disso, no âmbito local, a religião permanece um elemento potente da cultura mesmo se no contexto da globalização, cultura e religião são dois elementos em conflito. E como não há global sem local e que o global e local estão em perfeita conexão, então, nem a desterritorialização nem a desculturação nunca significarão negação ou fim da religião. Todavia, é importante lembrar que as duas esferas, a saber, religião e cultura, permanecem independentes. Segundo François Mabille, a globalização como a revolução das técnicas da informação e da comunicação é também o tempo de transnacionalismo religioso. “Le transnationalisme, dit-il, repose sur une mobilité des hommes et des idées, sur des transferts de fonds également, bref, postule un décloisonnement géographique, une déterritorialisation que la logique du travail en réseau acentue” (MABILLE, 2003, p. 3).
Alhures, a globalização é um fenômeno no qual o ser humano se adquire pessoal e livremente novos deuses como o sexo, o dinheiro, a Internet (ROY, 2008; THUAL, 2003). Caracterizada também pelo aparecimento de novas formas de religiosidade, as setas[9] que os sociólogos chamamos Novos Movimentos Religiosos (NMR) como, por exemplo, os Testemunhos de Jeová, a globalização vem não para acabar com a religião, mas para mostrar a distinção entre religião e esfera cultural. A cultura é problemática para pensar a desterritorialização, a universalização, por fim, a globalização da religião. Em vez de acabar com as atividades religiosas, a globalização com todos os seus meios e poderes lhes oferece a oportunidade de se tornar cada vez mais forte e imponente.
Enfim, as duas ideias nos parecem complementares, pois, de um lado, sem a capacidade de adaptar-se à globalização, a religião não poderia desenvolver-se indo vender além das fronteiras seus produtos, do outro, as mensagens religiosas de um mundo unificado em um só personagem, a saber Jesus, seria de uma difícil circulação transnacional no processo da globalização política, cultural e econômica. De uma certa maneira, a influencia pareceria recíproca, mesmo se algumas religiões ainda não respondem às condições para entrar na globalização. Abordaremos esse aspecto no terceiro ponto. Assim, no contexto da globalização, não podemos falar da negação nem do fim da religião na sociedade moderna ou pós-moderna, mas da transformação do pensamento religioso.

2. UMA RELIGIÃO UNIVERSAL É POSSÍVEL?

Há, na sociologia contemporânea, uma discussão muito intensa, polêmica e complexa entre o que é universal e particular. Cada tema se insere numa esfera de ação diferente, o que significa que o universal é o contrário do particular. Nesse sentido, é Renato Ortiz que nos ajuda a compreender melhor essa distinção por esta frase: “O universal se associa à idéia de amplitude e mobilidade enquanto o particular tenderia ao enraizamento, ao confinamento no interior de fronteiras bem construídas” (ORTIZ, 2006, p. 120).
Com efeito, no seu livro mundialização: crenças e saberes, Renato destacou que por religião universal (judaísmo, confucionismo, bramanismo, budismo, cristianismo, islamismo) devemos entender as crenças cuja apreensão do mundo propõe uma ética na qual o indivíduo escolheria, com maior ou menor grau de autoconsciência, o caminho da sua salvação. (ORTIZ, Op. cit). A abordagem de Ortiz como a de Roy Olivier, de Jean-Paul e de outros autores, nos leva a compreender que a igreja perdeu seu poder sobre os indivíduos, tal poder consiste em forçá-los a escolher um tipo de crença. A globalização se torna ao mesmo tempo um motor de expansão para essas grandes religiões mundiais e um ponto de encontro comum entre elas. Nas analises de Olivier Roy e de Jean-Claude Guillebaud, a universalidade dessas religiões encontra-se inscrever numa capacidade de desterritorializar-se, ou seja, de se expandir além do seu próprio território, assim elas se tornam não territoriais. Um exemplo interessante é o evangelismo protestante que se expande na América Latina principalmente no Brasil com 25 bilhões de membros em 2007,na África do oeste e no Oriente (ROY, 2008).
Da mesma forma, estamos assistindo ao regresso de um cristianismo cada vez menos europeu e americano, o islamismo e o budismo estão ocidentalizando-se também. Os budistas e os muçulmanos que vem instalando-se no Ocidente declaram que o cristianismo não é mais ocidental assim como o budismo e o islamismo não são mais orientais. Essa desterritorialização do religioso produz algumas interações e influencias de diversa natureza (GUILLEBAUD, 2008). Nesse sentido, a religião universal seria a expressão de um cruzamento de civilizações além do território e da confissão religiosa, assim o conceito de "choque das civilizações" de Samuel Huntington, e o dialogo entre as civilizações promovido pelo papa Jean Paul II, embora insuficientes, poderiam nos ajudar a enxergar na globalização um ponto onde as civilizações se confundem. Mas conforme Guillebaud vale melhor falar de "mestiçagem cultural", ou seja, uma situação na qual a fé religiosa não será mais percebida como uma identidade, pois essa fortaleza identitária será rompida pela globalização. Então ele acrescentou dizendo: “Ce que j’appelle « mondialisation du religieux », c’est la déconnexion de plus en plus avérée entre une confession et un territoire” (GUILLEBAUD, 2008, p. 477).

Um outro estudo interessante sobre essa questão de religião global merece ser abordado, é François Fourquet. Com efeito, o autor nos mostra que no contexto da globalização, o resto da humanidade se vê imposto uma religião laica global caracterizada pela democracia, pelos direitos humanos e pelo mercado econômico do Ocidente. Esta forma de religião global deveria ser universalmente aceitada. Mas, o Oriente se opõe a ela por três razões. Primeiro, essa religião é contestada pelo fato de que ela é de origem cristã. Segundo, porque o Ocidente não tem mais a autoridade de impor sua religião ao resto do mundo, enfim, em terceiro lugar, essa religião ocidental não pode ser universal porque ela está demais dominada pela cultura ocidental. As religiões orientais se opõem ferozmente à religião universalo-ocidental, elas recusam o imperialismo religioso ocidental porque a civilização ocidental não detém mais o monopólio do mundo. Assim, para nos esclarecer mais sobre esse ponto Fourquet sublinha:
C’est le fond du problème. Devant la montée en puissance des civilisations non occidentales, l’Occident est sur la défensive; il se raidit, se protège, impose sa religion par le chantage ou la violence. Il agit comme au XVIe siècle les missionnaires qui convertissaient les Indiens d’Amérique à l’aide de la douceur évangélique des soudards espagnols. Une religion se transmet par le coeur, pas par la force. Si elle répond à un désir collectif, elle se répand comme une traînée de poudre et rien ne peut y faire obstacle. L’imposer est contre-productif, suscite la haine. C’est une vérité désagréable à entendre pour nous : les civilisations jadis assujetties n’acceptent plus le leadership occidental; ells ont acquis assurance et puissance, surtout l’Asie orientale, portée par une longue vague de croissance… L´occident perdra son leadership, c´est inéluctable (Fourquet, 2002, p. 29).

Ainda tem uma reflexão de Olivier Roy sobre a questão de religião universal que não deveria nos escapar porque interessante e pertinente. Esta reflexão defende a possibilidade de existência de uma religião universal. Com efeito, como já vimos, por religião universal ele entende aquela religião que não será dominada por uma cultura específica, será uma religião totalmente livre de todas as culturas particulares a fim de ser accessível a toda sociedade. Na medida em que a religião se torna não-cultural, ela detém um caráter universal que a caracteriza dentro do processo da globalização. “Or, affirme Roy, c´est seulement si une religion se pose, même abstraitement, comme non culturelle qu´elle peut répondre aux conditions de la mondialisation et s´universaliser” (ROY, Op. cit. p. 45).

Considerando uma outra perspectiva de Roy, o conceito de religião universal não se entende no mesmo sentido que Ortiz já colocou, isto é, a existência de uma religião única ou idêntica na qual toda humanidade se reconhece. Mas o fato é que as grandes religiões mundiais como o cristianismo, o budismo, o judaísmo, o islamismo já estão universalizadas, isto é, presentes sobre todos os territórios pelo meio da Internet, das missões humanitárias e da evangelização. Abordando a discussão sobre a religião universal, Meslin e Tillich voltam à discussão sobre a oposição entre religião e cultura onde salienta que a relação entre os dois domínios foi sempre complexa e inelutável. De acordo com ele, a cultura é um adquirido, pois ninguém nasce cultivado. Por sua vez, Tillich citado por Meslin, sublinhou que a cultura é autônoma, auto-suficiente, portanto ela não tem ordem a receber da religião, cabe a religião de conformar-se à cultura, pois “La religion est la substance de la culture, la culture est la forme de la religion” (MESLIN, 2006, p. 535-536). Ambos os autores concluem dizendo que, apesar de as diferencias que as caracterizam, entre a religião e a cultura não deveria ter nem ruptura nem divórcio, mas complementaridade, explicação de uma pela outra e continuidade.
Assim, se para falar de religião universal, é preciso haver uma ruptura total entre religião e cultura; se a religião universal não significa uma religião única e idêntica para todo o mundo; se a cultura e a religião permanecem dois elementos estreitamente ligados; se uma religião pode ter uma dupla natureza, territorial e não territorial; então é muito difícil e complicado responder pelo afirmativo que uma religião universal é possível. Enfim, se para Roy e Guillebeaud uma religião universal não parece totalmente impossível, para Renato é o contrário. Se segundo ele é difícil falar de uma "cultura global" da mesma maneira não faz sentido de falar de uma "religião global", pois o mundo globalizado não significa que tudo se torna idêntico, mesmo dentro da globalização cada religião conserva suas próprias características. Perceber um mundo no qual existe uma religião única para todo mundo não é possível, acrescentou ele. A religião, além de tudo, permanece um elemento crucial da cultura (ORTIZ, Op. cit. 2006).

3. QUAL SERÁ O DESTINO DA RELIGIÃO DENTRO DA GLOBALIZAÇÃO?

Se a resposta a essa questão tiver elementos vantajosos para algumas religiões, para outras a situação é complexa, em outras palavras, se a globalização oferece aberturas, privilégios e possibilidades favoráveis a algumas religiões, ela coloca, entretanto, em obstáculos e dificuldades o desenvolvimento de outras que, por causa da sua estrutura, se sentem incapazes e impotentes para enfrentar esse fenômeno. Portanto, nessa situação, um destino positivo, feliz, proveitoso e agradável dentro do processo da globalização não é garantido identicamente a todas as religiões. Com efeito, voltando ao Olivier Roy, ele sublinha que o cristianismo inclusive suas diversas formas religiosas, a saber, protestantismo, evangelismo, pentecôtismo, assim como o islamismo e o budismo são religiões que já tiverem e têm ainda uma estrutura organizacional accessível à globalização, portanto não elas terão problema nenhum para aproveitar dos seus benefícios. Essa facilidade é traduzida, por uma outra vez, pela capacidade dessas religiões de se desterritorializarem e se desculturalizarem.

Como já foi dito por Olivier Roy, uma religião que se agarra fortemente a sua cultura de origem, terá grandes dificuldades para se adaptar à globalização e seus efeitos. É o caso, por exemplo, da ortodoxia russa e do catolicismo romano. A ortodoxia russa e o catolicismo romano estão em crise porque conhecem o que Olivier Roy chama la sainte ignorance (a santa ignorância). A santa ignorância, segundo o autor, é o fato de ignorar uma cultura percebida como pagã para salvar a pureza da sua fé, isso faz muito tempo desde que a igreja católica considera a moral moderna como pagã, o papa a tratou de culture de mort (cultura de morte), assim a ortodoxia russa e o catolicismo romano ficam fechados à cultura europeia sem poder abrir-se ao resto do mundo . A globalização cria um mercado universal dentro do qual circulam igualmente os produtos religiosos que, na percepção cristã, em particular, no protestantismo, não têm lugar fixo do mesmo modo só o Espírito Santo não precisa de um lugar fixo para se manifestar. O cristianismo na sua essência é, segundo Michel Fedou, uma religião que está apta a receber a globalização. Essa aptidão se explica não somente pela sua história quando disser isto:
Divers facteurs avaient permis cette évolution: des événements d’ordre politique, tels que les conquêtes d’Alexandre et l’avènement de l’Empire romain; le développement d’échanges commerciaux et de migrations à l’époque hellénistique; l’essor de la philosophie stoïcienne, qui élargissait l’idéal de la cité antique et présentait l’homme comme citoyen du monde; l’ouverture à des sagesses et religiosités venues de l’Asie mineure ou même de l’Inde (FEDOU, 2002, p. 218).
mas também pela sua tradição doutrinal. Sobre um tal aspecto, seria bom retomar suas palavras:
Le christianisme a toujours été convaincu d’avoir une responsabilité particulière par rapport à l’avenir de la «terre habitée» (oikoumenè). Cette conviction n’éclaire pas seulement le développement des missions jusqu’aux pays les plus lointains; elle a aussi joué comme un puissant facteur d’invention dans l’histoire des techniques et des sciences, dans l’ordre social et politique, et, plus largement, dans tous les domaines où il s’avérait possible d’humaniser la nature et le monde (Ibid, p. 219).

Essas duas dimensões do cristianismo podem ser encontradas nas palavras bíblicas em Gálatas 3, 28 onde é dito: “Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. Do outro, em Marcos 16, 15 é explicitado a missão evangélica confiada aos discípulos que transformará o cristianismo em uma religião universal, então é dito: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”. Essas palavras bíblicas mostram a tal ponto que o cristianismo se torna uma religião não cultural e não territorial com objetivo principal de expandir a mensagem do Cristo-Jesus a todo o mundo sabendo que finalidade dessa mensagem é chegar a criar uma sociedade global em Jesus. Porém, dois aspectos fazem obstáculo principalmente a esse princípio de evangelizar e o de submeter a terra ao evangelismo cristão.
Com efeito, a história cristã é marcada por cenas violentas que se relacionam com este princípio sacramental de evangelizar o mundo. Houve muita violência contra os outros grupos sociais de crenças diferentes para aceitar a religião cristã que pretende se afirmar como « verdadeira religião ». Por outro lado, o princípio de submeter a terra causou também algumas ações destrutivas contra a natureza. Segundo alguns autores, o cristianismo é a religião cristão é a mais desrespeitosa da natureza, principalmente, durante suas guerras contra a magia e a feiticeira nos séculos XVII a XIX.
O islamismo opondo-se cada vez mais à religião ocidental está conhecendo uma expansão considerável no mundo (Europa, Ásia e África) pelo fato de que o oumma que é a comunidade dos crentes é por definição supranacional. No seu texto, René Otayek mostrou como o islamismo pôde atingir o oeste da África. Segundo ele, a transnacionalização do islamismo que se limita à África subsaariana não é apenas uma questão das instituições de redes político-comerciais ou da civilização material, mas também uma questão de cultura e de símbolos, pois a globalização é um fenômeno que se constrói e se desconstrói. (OTAYEK, 2003).
Como uma das grandes religiões mundiais, o budismo é por natureza universal, pois não dogmático, ele transmite uma mensagem baseada na abordagem racional e científica. Ele se destaca completamente da idéia de deus porque ele é considerado como uma religião moral. Ele começa a se expandir no resto do mundo a partir do século XX. Na Europa, os países mais atingidos pelo budismo são o Reino Unido com 1,2 % e a França com 1,1 de budistas. Nos Estados Unidos também o budismo atinge um nível considerável de 2 %. Alguns autores como Jean-Paul Willaim e Olivier Roy falam de um budismo ocidentalizado. Na América do sul a presença do budismo é quase desprezível, sobretudo no Brasil (0, 130 %) e na Argentina (0,1 %), mas em Costa Rica com seus 2,4 %, é o país mais budista do continente . Enfim, o estatuto de universal reconhecido a cada uma dessas religiões ditas grandes religiões (cristianismo, judaísmo, islamismo, budismo) encontra sua força na sua capacidade de responder às ofertas do mercado religioso internacional caracterizado pela evangelização via órgãos de comunicação principalmente a TV e a Internet, pelas missões de caráter humanitário; e de se adaptar às condições impostas pela globalização que são em geral a desterritorialização e a desculturalização.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, se a globalização parece favorável para as religiões universais é porque a visão delas de viver numa cidade-mundo encontra-se compatível a ela. Por exemplo, com a Internet, isto não é mais um sonho, mas uma realidade, o mundo é reduzido a uma pequena aldeia. Com o Telê evangelismo também que já atinge um nível extraordinário, nós estamos assistindo a uma circulação rápida dos produtos religiosos. O mercado religioso é transnacional, universal e ao mesmo tempo local, ou seja, sem precisar sair da casa ou do território respectivo, alguém pode participar nas ações desse mercado pelo meio da Internet. Por outro lado, se a globalização é um grande obstáculo para algumas outras religiões é porque estas não se deixam transformar por ela, pois ela é, na sua essência, um processo de homogeneização e de heterogeneização; de construção e de desconstrução; de ordem e de desordem; de organização e de desorganização.
A relação entre religião e globalização não é simples, mas é muito complexa. É muito difícil então fechar o debate dizendo que religião e globalização estão totalmente em conflito ou se influenciam continuamente, pois as considerações históricas e sociológicas acabaram de mostrar que entre elas se cria uma zona de tensão, de conflito, de interinfluência e de ação recíproca. Falando dessa reciprocidade, Mendieta e Barstonne sublinham que hoje a religião é inseparável da globalização da mesma maneira que a economia, a política e a tecnologia (MENDIETA e BARSTONNE, op. cit. 2001). Talvez a globalização possa colocar fim às religiões mais territoriais e fortemente concentradas sobre a sua cultura de origem. Todavia, entre a religião e a globalização não pode existir vencedor nem perdedor, trata-se de um jogo a suma igual.

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Rubrique: Culture
Auteur: FABIEN JEAN | jeandefabien1982@yahoo.fr
Date: 4 Juin 2016
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