Russell contra Descartesde Johny Hilaire| JobPaw.com

Russell contra Descartes


Resumo: Os Problemas da Filosofia (1912) de Bertrand Russell marcou um ponto de virada na história da Filosófica moderna por ter levantado muitas criticas e questões filosóficas importantes. Nesse livro, Russell divide o conhecimento em duas espécies: “conhecimento de coisas” e “conhecimento de verdades”. O “conhecimento de coisas” é dividido por sua vez em dois tipos: “conhecimento de trato, ou de intimidade, ou conhecença ou direto” e “conhecimento por descrição”. Russell critica a dúvida cartesiana acerca dos sentidos, também critica a segunda verdade ontológica tirada da existência do cogito de Descartes, ao sustentar que o “EU” puramente pensante cartesiano não é uma certeza, mas os dados dos sentidos são certos. Partindo dos quatro tipos de conhecimentos diretos de Russell : os dados dos sentidos, o conhecimento adquirido pela memória, o conhecimento por introspecção e o conhecimento de universais, o objetivo deste artigo consiste em explicar a teoria do conhecimento de Russell, e em especifico, refletir sobre dois problemas encontrados nas suas criticas a segunda verdade cartesiana tirada do cogito (a função puramente pensante do cogito), e o esquema da dúvida sistemática cartesiana. Para tal explicação e reflexão limitaremos nas espécies de “conhecimentos de coisas”, russelianas, pois consideramos que são as fontes das criticas de Russell a Descartes.

Johny Hilaire , Munique, Allemagne.

Russell contra Descartes

Resumo: Os Problemas da Filosofia (1912) de Bertrand Russell marcou um ponto de virada na história da Filosófica moderna por ter levantado muitas criticas e questões filosóficas importantes. Nesse livro, Russell divide o conhecimento em duas espécies: “conhecimento de coisas” e “conhecimento de verdades”. O “conhecimento de coisas” é dividido por sua vez em dois tipos: “conhecimento de trato, ou de intimidade, ou conhecença ou direto” e “conhecimento por descrição”. Russell critica a dúvida cartesiana acerca dos sentidos, também critica a segunda verdade ontológica tirada da existência do cogito de Descartes, ao sustentar que o “EU” puramente pensante cartesiano não é uma certeza, mas os dados dos sentidos são certos. Partindo dos quatro tipos de conhecimentos diretos de Russell : os dados dos sentidos, o conhecimento adquirido pela memória, o conhecimento por introspecção e o conhecimento de universais, o objetivo deste artigo consiste em explicar a teoria do conhecimento de Russell, e em especifico, refletir sobre dois problemas encontrados nas suas criticas a segunda verdade cartesiana tirada do cogito (a função puramente pensante do cogito), e o esquema da dúvida sistemática cartesiana. Para tal explicação e reflexão limitaremos nas espécies de “conhecimentos de coisas”, russelianas, pois consideramos que são as fontes das criticas de Russell a Descartes.
Palavras chaves: Dados dos sentidos. Conhecimento direto. Conhecimento por descrição. Eu. Dúvida.
Abstract: With his book The Problems of Philosophy (1912), Bertrand Russell has marked a turning point in the branch of the philosophical logic. Inside this artwork, Russell divides the knowledge into two parts "direct" and "by description," criticizing the ontological proof of the existence of the cogito of Descartes. Because, according to Russell, the Cartesian cogito cannot be the first certainty, but this place is reserved for the sense data. Starting from four types of direct knowledge presented in this work, the purpose of this article is to explain the theory of knowledge presented by Russell, specifically, a problem found in his ontological proof of the existence of matter, because for Russell every sense-datum infers the existence of an existing matter.
Key words: Senses data; Acquaintance; Knowledge by description; I; doubt.
Através do seguinte trecho, tirado do capitulo quinto da sua obra “Os problemas da Filosofia”, Russell estabelece a diferença entre suas duas espécies de conhecimento, e apresenta uma divisão para a primeira espécie:
"Existem duas espécies de conhecimentos: o conhecimento de coisas e o de verdades. O conhecimento de coisas divide-se em dois tipos. O primeiro é o conhecimento de trato ou de intimidade, e é mais simples que qualquer conhecimento de verdades, e logicamente independente do conhecimento de verdade. O segundo é o conhecimento por Descrição, pelo contrário, implica sempre algum conhecimento de verdades como sua origem e fundamento " .
Na ordem classificatória das diversas categorias de conhecimentos, encontram-se duas espécies: o “conhecimento de coisas” e o “conhecimento de verdades”. Para uma classificação mais detalhada, o conhecimento de coisas é dividido em duas classes: o “conhecimento de trato, ou de intimidade ou direto” e o “conhecimento por descrição”. Apesar de ser mais simples, o conhecimento direto não depende de qualquer outro tipo de conhecimento para estar certo. O conhecimento direto se sustenta, ao invés do conhecimento por descrição que depende de alguma verdade prévia para seu fundamento.
Alargando a explicação da espécie de conhecimento direto, Russell acrescenta:
"Dir-se-á que conhecemos de trato uma coisa da qual temos consciência diretamente, sem o intermédio de processos de inferência ou de qualquer conhecimento de verdades. Assim, em presença da minha mesa, tenho trato direto (ou conhecimento intimo, ou conhecença) com aqueles dados dos sentidos que constituem a aparência da mesa: a cor, a forma, a dureza, a macieza, etc. Coisas são estas, todas elas, de que cobro imediata consciência quando vejo a mesa ou a tacteio" .
O conhecimento de trato ou direto é aquele conhecimento que nos é dado imediatamente ou diretamente. O conhecimento direto não precisa de intermediário de dedução ou de verdades para acontecer, é imediato. Alguns conhecimentos diretos como, por exemplo: cor, forma, som, dureza, cheiro, textura, nós são dados a través dos sentidos exteriores. O conhecimento do aparecer de uma mesa é o conhecimento de coisas, mas conhecer a mesa é conhecimento por descrição, que depende de alguma verdade prévia sobre a mesa. Nesse caso, não podemos conhecer a mesa pelo conhecimento direto, mas por descrição. Na verdade, em um sentido estrito, não conhecemos a mesa, nós só conhecemos uma descrição da mesa e aplicamos esta descrição ao objeto mesa e sabemos que esta descrição corresponde a aquela única mesa.
Segundo Russell, o conhecimento direto fornece informações exatas do aparecer das coisas, mas o conhecimento de verdade não. Pois, qualquer descrição verdadeira postulada sobre a cor da mesa não nos dá conhecimento exato da cor da mesa:
Pode-se ia dizer que a mesa é castanha, ou bastante escura, ou outra coisa assim. Tais proposições, todavia, se me revelam verdades sobre a cor, não me dão conhecimento da própria cor de modo melhor que anteriormente: no que toca ao conhecimento da própria cor (como distinto ou oposto ao conhecimento de quaisquer verdades a respeito dela) conheço a cor de maneira completa, perfeitamente, logo que a vejo; e nem até teoricamente me seria possível o conhecê-la melhor .
Então, o conhecimento certo, perfeito, completo é o conhecimento direto. Os dados dos sentidos (ou dados sensíveis) são aquelas coisas conhecidas imediatamente pela sensação como: cor, forma, dureza, maciez, etc. O conhecimento direto fala melhor sobre uma coisa do que verdades acerca desta coisa. Por exemplo, os dados dos sentidos da cor da mesa são mais certos do que qualquer verdade sobre a cor da mesa. Nessa perspectiva, uma proposição verdadeira acerca de uma coisa é menos certa do que os dados dos sentidos dessa coisa, pelo motivo de que os dados dos sentidos são imediatos e não precisam de qualquer verdade prévia para fundamentar-se. Mesmo que uma pessoa não saiba previamente os verdadeiros nomes das cores, ela tem mais conhecimentos certos através dos dados dos sentidos ao olhar ou tocar a mesa do que saber a verdade da cor da mesa sem ver ou tocar a mesa. Mesmo que esta pessoa não tenha uma linguagem para apontar os dados dos sentidos vistos ou tocados, os dados sensíveis são mais certos do que qualquer verdade a cerca da cor ou qualquer outra verdade sobre a mesa.
Por Russell ter afirmado (RUSSELL, 1912, p.60): <>, Alfredo Dinis acerta quando afirma que: Russell parece manifestar uma predileção particular pelo conhecimento direto das coisas através dos sentidos, pelo motivo que, tal conhecimento é simples e imediato .
Russell apresenta sua primeira discordância contra o esquema da dúvida metódica cartesiana acerca dos sentidos. Lembrando que a dúvida de Descartes é apresentada na primeira Meditação das Meditações Metafísicas onde ressalta:
"Tudo que recebi, até o presente momento, como o mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos: ora experimentei que esses sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez ".
Enquanto Descartes rejeita e duvida radicalmente das informações provindas dos sentidos, Russell apoia sua filosofia na certeza dos dados dos sentidos: “é possível duvidar da existência de qualquer mesa: ao passo que é indubitável, pelo contrário, a existência dos dados dos sentidos ”.
Russell nega a estrutura da dúvida metódica cartesiana, mas concorda que pode duvidar das coisas, por que elas são dubitáveis, ao passo que os dados dos sentidos não. Como acabamos de ver, segundo Russell, o conhecimento dos dados dos sentidos são certos. Mas, a nosso ver, o lugar que Russell escolhe para atacar a dúvida cartesiana acerca dos dados dos sentidos, não derruba totalmente a estrutura argumentativa de Descartes. Ao negar, Russell esta admitindo indiretamente que no sistema filosófico de Descartes, são os sentidos que sente. Talvez ele o faça inconscientemente. O ataque de Russell contra a estrutura argumentativa da dúvida metódica cartesiana acerca dos dados dos sentidos teria mais força se apontasse a contradição que existe na primeira e na segunda Meditação, onde Descartes, em primeiro lugar, duvida dos sentidos na primeira Meditação, pois estes são enganosos, e em segundo lugar, na segunda Meditação, reconhece que a alma é que sente através dos sentidos. Então Russell poderia surgir a seguinte pergunta, se os sentidos não sentem como estes poderiam enganar Descartes, que se identifica com uma alma, que é a que sente? É desta maneira que, de acordo ao nosso ponto de vista, a critica de Russell poderia atacar mais o esquema de dúvida acerca dos sentidos de Descartes.
Continuando a explicação da classificação dos tipos de conhecimentos, Russell explica largamente o “conhecimento por descrição” no seguinte parágrafo:
"O conhecimento que da mesa tenho é o que chamamos atrás de conhecimento por descrição. É a mesa, objeto físico que causa tais e tais dados sensíveis. Para sabermos algo acerca da mesa, cumpre que saibamos que tais dados sensíveis são ocasionados por um objeto físico. Nenhum estado de espírito pode existir em que tenhamos da mesa consciência direta, em que estejamos diretamente conscientes da mesa; todo o conhecimento que alcançamos dela é bem um conhecimento de verdades; e da coisa real que é a mesa, não poderemos jamais atingir estritamente falando, conhecimento algum. Conhecemos sim uma descrição, e sabemos que existe um determinado objeto, ao qual a referida descrição convém, isso sem embargo de que do próprio objeto nos não é possível o conhecer direto" .
O conhecimento por descrição é o conhecimento que nos é dado indiretamente por meio de uma verdade sobre o objeto a ser conhecido. O conhecimento direto é conhecimento de algo, mas o conhecimento por descrição é o conhecimento que algo tenha determinada ou propriedade. Conhecer o aparecer de uma mesa é o conhecimento direto, mas conhecer a mesa é conhecimento por descrição, que depende de alguma verdade prévia sobre a mesa. Na verdade, em um sentido estrito, segundo Russell, não conhecemos a mesa, conhecemos apenas uma descrição da mesa e sabemos que esta descrição só corresponde a esta mesa. O conhecimento por descrição é um poderoso instrumento que nos permite falar acerca de coisas que nós não temos conhecimento direto.
De acordo com Russell (RUSSELL, 1912, p.68), a palavra descrição significa qualquer frase que tenha a forma de: “um isto e aquilo” ou “o isto e aquilo”. A forma “um isto e aquilo” é ambígua, mas a forma “o isto e aquilo” é definida. Por exemplo: um homem é uma descrição ambígua, mas, o homem de mascara de ferro, é uma descrição definida. O conhecimento por descrição considera apenas a forma “o isto e aquilo”, quer dizer, somente a descrição definida. Russell elabora três etapas fundamentais para conhecer um objeto por descrição: a primeira, o objeto tem que existir, a segunda, apenas deve existir, e a terceira, deve ter certa propriedade. Parafraseando Russell, sabemos que o homem da mascara de ferro existiu, e conhecemos algumas proposições sobre ele, mas não sabemos quem era o homem do mascara de ferro, quer dizer não temos dados sensíveis dele, conhecemo-lo somente por descrição. (RUSSELL, 1912, p.69)
O conhecimento por descrição precisa de uma regra, um princípio inerente que faz com que o ser humano seja capaz de falar de coisas que ele nunca teve conhecimento direto. Como os dados dos sentidos são em números bem limitados e nos permite falar apenas de coisas que nós temos conhecimento direto, então o princípio de indução prolonga o terreno de nosso conhecimento, pois ele é o princípio que nos permite ter conhecimento por descrição de coisas que nós não temos dados dos sentidos ou conhecimento direto. O principio de indução permite inferir uma grande probabilidade de coisas que irão acontecer baseados na maneira que foram acontecidas no passado. Por isso, o principio da indução é essencial ao conhecimento por descrição.
Antes dos apontados atrás, (RUSSELL, 1912, p. 3-44) sustenta que não conhecemos a natureza ou as propriedades intrínsecas dos objetos físicos, conhecemos dados dos sentidos que nos sinala a presença de objetos físicos fora de nós, o que não vale, no caso de sonho ou qualquer coisa parecida. As coisas reais são designadas de objetos físicos, e a coleção dos objetos físicos é denominada de matéria. Conhecemos a matéria ou os objetos físicos apenas por descrição, estes estão no espaço físico ou espaço cientifico diferente do espaço privado usado por nós para observá-los através dos dados dos sentidos. Por isso que cada pessoa tem dados sensíveis diferentes de um objeto físico, dependendo sob qual ângulo cada pessoa está tendo seus dados sensíveis do objeto físico. Os dados sensíveis ou dados dos sentidos do objeto físico não são inerentes aos objetos físicos. Ainda que os dados sensíveis originassem dos objetos físicos, estes são dados sensíveis separados dos objetos físicos. Não conhecemos a natureza dos objetos físicos, por isso, não podemos relacionar os dados dos sentidos com os objetos físicos. Os objetos físicos devem ter uma forma real no espaço cientifico que não é a forma aparente que nos apresenta no espaço privado de cada pessoa. O que chamamos de círculo pode aparecer oval se o olhamos de lado, mas não de frente. A madeira de uma cadeira que qualificamos de lisa pode aparecer rugosa ao ser observada em um microscópio. A cor não é uma propriedade dos objetos físicos, mas ela depende ao mesmo tempo de um objeto físico, de uma pessoa que olha o objeto físico, e tendo em vista a maneira que a luz reflete no objeto físico, e a posição da pessoa que olha o objeto físico. Quando nós batemos em um objeto físico, nós ouvimos um som, mas este não é uma propriedade do objeto físico, é um acidente que acontece nos dados dos sentidos, mas não no objeto físico em si. É a mesma coisa quando sentimos um cheiro, este não é uma propriedade do objeto físico, tudo isso ocorre na aparência e não na realidade do objeto físico. Na verdade, a cor, o som, o cheiro, a textura, a dureza, a rugosidade são todos dados dos sentidos que não têm nada ver com a natureza dos objetos físicos. Por isso que não podemos estar seguros de que os corpos físicos têm as propriedades sensíveis que parecem ter (Cor, forma, textura, cheiro etc.).
Segundo Russell, todo conhecimento se fundamenta em ultima instancia no conhecimento direto. Além dos dados sensíveis, considerados como conhecimentos diretos (cor, cheiro, dureza, som, gosto, etc.) provocados imediatamente ao intelecto, inferindo a existência de uma matéria a partir da qual eles se originam, temos também mais três conhecimentos diretos. Russell enumera: A primeira extensão do conhecimento de trato para além dos dados dos sentidos que temos o dever de considerar é o conhecimento de trato pela memória. (RUSSELL, p.62-63).
Conforme Russell, o conhecimento adquirido pela memória possibilita a nossa lembrança e nos remete ao conhecimento do passado por dedução. A noção do tempo nesse caso é o fruto da memória que guarda os acontecimentos em ordem cronológica. Sem a memória, não podemos conhecer o que fizemos antes e depois, tudo estaria em um presente eterno para nós. Toda coisa que chega ao intelecto seria uma nova coisa, então não conseguiríamos fazer dedução nem indução, pois a indução dirige-se ao futuro e a dedução ao passado. Então, sem a memória não há conexão do passado ao presente, e do presente ao futuro, viveríamos em um presente permanente.
Russell continua a enumeração dos itens que temos conhecimentos diretos: A extensão a considerar logo depois é o conhecimento direto por introspecção. (RUSSELL, 1912, p.63).
De acordo com Russell, o conhecimento por introspecção possibilita a nossa consciência do ato de estar consciente. Quer dizer, nós temos consciência de que nós temos consciência. Quando olhamos o sol, por exemplo, temos consciência de que estamos conscientes olhando o sol. Esta ação ocorre imediatamente e sem intermediário. No sistema Russelliano, não temos conhecimento direto do cogito ou do “Eu”, mas, é apenas por descrição que podemos falar do “Eu”, pois temos consciência de nossos pensamentos e nossas sensações particulares, mas não o conhecimento do ‘’Eu’’, sentimos a consciência imediata ao ter contato com a memória ou com os dados dos sentidos. O conhecimento por introspecção é a fonte do conhecimento da mente. Segundo Russell, o conhecimento por introspecção é a consciência de si ou autoconsciência, que nos diferencia dos animais, pois os animais têm dados dos sentidos, mas não são conscientes de estar conscientes. (RUSSELL, 1912, p.64).
Russell termina de enumerar a relação dos itens que temos conhecimentos diretamente: Há também o conhecimento intimo direto do que designamos “conhecimentos de universais”, ou seja, as chamadas ideias gerais, tais como brancura, diversidade, fraternidade etc. (RUSSELL, 1912, p.63).
De acordo com Russell, temos conhecimento de universais. Estar consciente dos universais é conceber universais, e conhecer universais é conhecer conceitos. Conhecemos relações espaciais entre as sensações, e relações temporais entre os itens da memória. As relações espaciais e temporais são universais. Entretanto, contrariamente a Platão que precisava de grandes esforços para ter conhecimento de universais, Russell sustenta que temos conhecimento direto dos universais sem esforço. Não podemos conhecer os objetos físicos, pois estes estão em um espaço cientifico diferente do espaço privado de cada individuo. Nós temos dados dos sentidos dos objetos físicos em nosso espaço privado ou particular, então nunca vamos conhecer os obetos físicos tais como são, mas conhecemos relações de distâncias entre eles. De dois objetos físicos, conhecemos, por exemplo, que um está mais longe do que outra. Conhecemos a distância entre dois pontos sem saber o que é um ponto em si.
Russell concorda plenamente que Descartes, é o fundador da Filosofia moderna, por este ter inventado o método da dúvida sistemática ou da dúvida metódica que pode ser usada, ainda agora, com real proveito. Segundo o método cartesiano, não se pode acreditar em coisa alguma se ela não fosse clara e distinta, e deve duvidar de todas as coisas de que fosse possível duvidar até encontrar razões para não duvidar.
Russell concorda também que a dúvida sobre a própria existência de Descartes não lhe era possível, pois Descartes tem que existir para pode pensar, duvidar e ser enganado. Na medida em que Descartes pensa e dúvida, infere-se a sua existência, absolutamente certa, resumida na frase: Penso, logo, sou. A partir desta certeza existencial, Descartes reconstrói todo o conhecimento, que a sua dúvida metódica tentou destruir. Mas, a partir desta primeira verdade da existência do cogito, Descartes vai tirar outra verdade, a da função puramente pensante do cogito. É nesse ponto que Russell discorda com Descartes. (RUSSELL, 1912, p.18).
Lembre-se que em Russell, não temos conhecimento direto do “EU”, mas apenas com o conhecimento por descrição que podemos falar do “Eu”, por isso que Russell discorda de Descartes sobre a certeza da identidade do cogito. Russell entende que Descartes identifica o “Eu” existente sempre como o mesmo:
"É preciso tomar cuidado ao empregar o argumento de Descartes. Eu penso, portanto eu sou, diz algo mais do que estritamente certo. Podemos ter a impressão de que estarmos absolutamente seguros ser hoje a mesma pessoa que fomos ontem, o que, de certo modo, é indibutavelmente certo.Porém , o Eu real é tão dificilmente acessível como a mesa real, e não parece ter a certeza absoluta, convincente, que pertence as experiências particulares. Quando olho para uma dada mesa, e experencio a visão de uma cor castanha, o que tenho imediatamente certo, não é neste caso << eu estou vendo uma cor castanha>>. Pressupõe isso alguma coisa ou alguém, que esta vendo a cor; não implica, porém, por si, e sem embargo disso, aquela mais ou menos permanente pessoa que nós designamos pelo vocábulo <>. Nos limites da certeza imediata, pode dar-se que o algo que enxerga a cor seja só transitório e momentâneo, e não o mesmo, por consequência, que o algo que terá uma experiência diversa no lapso de tempo imediato ulterior" .
A nosso ver, ao duvidar da identidade do “Eu” cartesiano, Russell admite indiretamente a possibilidade de vários “Eus” no mesmo corpo, pois tem que ter um “Eu” por trás do “conhecimento direto” e do “conhecimento por descrição”, seja o que for alguém ou alguma coisa. Pensamos que a refutação de Russell não derruba totalmente o cogito de Descartes, pois em primeiro lugar, Descartes não fala que o “Eu” é idêntico, mas fala <>, mas não fala <>. Estas são duas proposições nitidamente diferentes. Seguindo o raciocínio de Russell, neste momento, algum “Eu” pode falar << eu sou uma coisa pensante>>, e num outro momento, outro “Eu”, a través do mesmo corpo pode falar <>. Como a linguagem humana é limitada, em termos de palavras, qualquer “Eu” que falasse através do mesmo corpo, outra pessoa poderia achar que o último “Eu” assume que é sempre idêntico. Outro problema é a dificuldade que cada “Eu” teria ao falar através do mesmo corpo, nenhum “Eu” reconheceria qualquer outro “Eu” que falasse antes. Acredito que este ponto metafísico é muito importante para um olhar mais profundo no texto de Descartes. E Deve ser a esta interpretação que Russell levou a este tipo de refutação. Em segunda lugar, Descartes se questiona, <>, e ele mesmo responde << existo todo tempo que penso>>. Mas, deixemos Descartes responder esta parte:
"Eu, eu sou, eu, eu existo, isto é certo, mas por quanto tempo? Ora, enquanto penso, pois talvez, pudesse ocorre também que, se eu já não tivesse nenhum pensamento, deixasse totalmente de ser" .
E em terceiro lugar, ainda posso usar o pronome pessoal “Eu”, mesmo que fosse “Eu” diferente do mesmo corpo. Ao olhar uma coisa, infere-se um ‘’Eu’’, por trás, independentemente se ele for momentâneo, permanente, ou uma coisa ou alguém. No caso de existir vários “EUs” como sustenta indiretamente Russell, no ato da saída de um “Eu” do corpo, implicaria para Descartes a inexistência do homem durante o tempo sem seu “Eu”. Qualquer outro “Eu”, seria outra coisa que não conseguiria saber se existissem outros “EUs” antes no corpo. Apesar das criticas de Russell, o argumento do cogito cartesiano se mantém por que Descartes temporaliza sua existência, ela não é permanente, mas depende do ato de pensar. Sem o exercício de pensar, Descarte deixa de existir. O mais importante é que Descartes não define a coisa pensante, mas dá função para ela: Mas, que sou então? Coisa pensante. Que é isto? A saber, coisa que duvida que entende, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina também sente. (Meditação sobre Filosofia primeira, p.51). Ao nosso ponto de vista, uma refutação a identidade do cogito cartesiano, seria de Russell apontar que Descartes postula funções para o cogito sem evidenciar a natureza do cogito.
Considerações finais:
Importante destacar que, a nosso ver, Russell utiliza também um tipo de método de dúvida, só que ele tem a estratégia de inverter o sistema de dúvida cartesiano. Pois, enquanto Descartes dúvida dos sentidos em primeiro lugar e afirma a existência do cogito em segundo lugar, Russell afirma a certeza dos dados dos sentidos em primeiro lugar, e duvida da identidade do cogito em segundo lugar. No caso de Descartes a nossa critica é bem claro, como duvidar dos sentidos se estes não sentem? No caso de Russell, a nossa critica é como duvidar da identidade do “Eu”, aceitando como certeza os dados dos sentidos que devem ser observados a través de um “Eu”, seja o que for permanente, passageiro, uma coisa ou alguém?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RUSSELL Bertrand, Os problemas da Filosofia. Trad. Antonio Sergio, São Paulo: Livraria acadêmica Saraiva, 1939.
DINIS Alfredo, Os problemas da Filosofia de Bertrand Russell: uma analise introdutória. Porto: Editor Contraponto, 1995.
DESCARTES, René. Meditações. (Os Pensadores) São Paulo: Abril Cultural, 1983. Disponível em: http://www.ruipaz.pro.br/fenomenologia/descartes.pdf. Acessado em 08/09/2015.
_________. Meditação sobre Filosofia Primeira, trad. Castilho Fausto: Campinas, Editora Unicamp, 199? . Disponível em:
http://copyfight.me/…/DESCARTES,%20Rene%CC%81.%20Meditac%CC…. Acessado em 09/09/2015.
Rubrique: Divers
Auteur: Johny Hilaire | johi574@yahoo.com
Date: 25 Avril 2016
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